Pelotas, 2012, comemora seus 200 anos e, nesta edição, eclétipoFaces formata-se sob a temática dos dois séculos de escrita na cidade. A proposta explora as condições dos meios de escrita e respectivos processos de leitura que dialogam na formação do social. Na esteira conceitual de Roger Chartier, Jaques Derrida e Felix Guattari, bem como pelos resultados do projeto de pesquisa Memória Gráfica de Pelotas: 100 Anos de Design, eclétipoFaces2012: dois séculos de escrita traz tipos, letterings e signos possíveis de cartografar o fluxo e o desenvolvimento social a partir do escreVER-LER a cidade.
Para tanto, propõe-se uma literatura urbana, entre arte, design e publicidade, plasmada em outdoors estrategicamente posicionados. Em complemento, deste terceiro Suplemento Especial, publica-se as TypeFaces Pelotenses, com a seleção de 20 famílias tipográficas dos últimos dois anos de produção da disciplina de Tipografia, do atual Curso de Design do Centro de Artes, UFPel.

A memória gráfica de uma cidade que se inscreve/escreve no tempo deixa marcas de trajeto. É percurso narrativo (de todas as velocidades) desenhado no fluxo do sujeito, reconstruindo-se em signos visuais.

Da palavra pronunciada pela primeira vez de "pelota", das marcas de sangue, suor ou sal, bem como das texturas de luz, do comportamento urbano e do jogo de relações sociais, Pelotas se escreve e pode se ler no singular e no plural.

eclétipoFaces2012, dois séculos de escrita plasmados em 12 outdoors, é   configuração publicitária de caráter artístico produzida por arquitetos, artistas e designers que leem para desenhar e, consequentemente, desenham para escrever.

O Design em Pelotas nasce, a ferro e fogo, com a própria origem da cidade. Marcas de gado, anúncios publicitários, documentos institucionais impressos em papéis e tintas especiais, pelos ateliês e tipografias, foram sempre uma recorrência na história gráfica local e a escrita (desenho) da palavra, elemento fundamental dos projetos.

O ensino do design tipográfico na UFPel iniciou com a Habilitação em Design Gráfico, Curso de Artes Visuais, antigo Instituto de Letras e Artes, no início dos anos 2000. Na disciplina intitulada Tipologia, estruturou-se os conceitos referentes aos resultados do ofício tipográfico, evidenciando seus aspectos de criação, produção e respectivos resultados estéticos/funcionais.
Nesse contexto, o projeto eclétipoFaces tornou-se estratégia para registrar e publicar a produção tipográfica da disciplina do curso e assim se fazer operar como formação de público para esse ofício. Em sua primeira edição, março de 2004, eclétipoFaces apresentou o resultado de 24 typefaces desenhadas por seus acadêmicos. Para tanto, como parte da metodologia de projeto, foram utilizadas as referências visuais da escrita vernacular em Pelotas, identificada e devidamente selecionada.

Através de apoio institucional do jornal local Diário Popular, os resultados foram publicados em Suplemento Especial, na edição de 28 de março de 2004. A evidência das relações estabelecidas entre Arte e Design Tipográfico encontrou ênfase no trabalho de Melina Gallo. Sua obra intitulada arteTIPOdesign apresentou uma série de esculturas tipográficas. Posteriormente, a partir da monografia de Guilherme Aguiar intitulada de Tipografia crioula, os estudos convergiram aos aspectos sociais da escrita, averiguando as possibilidades de se analisar a identidade visual do gaúcho a partir da tipografia. Aguiar apresentou uma família tipográfica construindo cada letra através das suas relações sígnicas encontradas nas marcas de gado crioulo.

 Em 2010 realizou-se a segunda edição da eclétipoFaces constituída por: Mostra planificada de 16 projetos tipográficos da disciplina de Tipografia, ainda da Habilitação em Design do Curso de Artes Visuais do Instituto de Artes e Design, Publicação de Suplemento Especial no jornal local Diário Popular, Produção da Coleção de Cartões-Postais Tipográficos e Exposição com convidados da área de Design Gráfico, Literatura e Música. Nessa edição, eclétipoFaces enfocou as expressões visuais, elevando a produção tipográfica à categoria de performance poética.